quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O MAR E OS MINEIROS: A PROVA QUE FALTAVA >>Felipe Peixoto Braga Netto

"O mar, meu filho, é uma espécie de saudade..."
(Guimarães Rosa)


Não haverá estudo decente sobre a alma mineira que exclua o mar. O mar, paradoxalmente, é algo mineiro. É algo que participa da psicologia de Minas. Não, claro, no dia-a-dia dos mineiros. Mas nos desejos distantes traduzidos naquele leve desabafo: "ah, se eu estivesse..."
Achei engraçada uma publicidade que vi tempos atrás: belas fotos de lugares típicos de Belo Horizonte. Só que atrás de todos eles havia, para espanto e prazer, o mar. Foi uma vingança divertida contra a natureza.
O leitor já presenciou um encontro do mineiro com o mar? Eu já. Abandona-se tudo: roupas pelo caminho, carro na calçada, mãe no hospital. Tudo passa, na lógica sedenta de sal, a ser secundário e pouco importante frente às azuis possibilidades marítimas.
O mineiro, conformado porque é o jeito, agora deu para zombar do mar. Li numa camiseta, dia desses, a seguinte frase: "Eu tenho pena do mar porque ele não banha Minas". Eu também tenho. E também achei simpática a brincadeira. É uma forma de dizer: "Tudo bem, você não me quer, mas não sabe o que está perdendo"... Soube depois que a ideia é antiga, lá do século dezenove. Já em 1891, Otávio Ottoni dizia em canção: "O mar suspira porque está longe de Minas". Será? Será Minas, velho mar, a causa dos teus suspiros?
Mas é fato que o mineiro se trai ao falar do mar. Logo ele, tão reservado e contido, se desmancha em excessos, revela saudade. Paulo Mendes Campos diagnosticou: "O mineiro é um marujo ao qual retiraram o mar". Maldade com o marujo mineiro. Mas lhe fez bem. Essa combinação de montanhas fez desse povo uma coisa única, dignamente bela. Talvez por isso o poeta, certa vez, tenha dito: "O mar de Minas não é no mar. / O mar de Minas é no céu, / pro mundo olhar pra cima e navegar / sem nunca ter um porto onde chegar."